terça-feira, 21 de junho de 2011

Trabalho e gestão de si – para além dos “recursos humanos”

     
      O capitalismo comtemporâneo demanda um trabalhador crítico, questionador, dinâmico, inovador, criativo e inteligente, e não mais aquele homem monótono e repetitivo do modelo.
      Uma outra subjetividade que demanda nos dias atuais é uma invenção cujo sujeito e objeto se engendrando no ato do conhecimento, ou seja, se originando, construindo-se e modificando-se, sem precedentes.
     O processo de subjetivação se refere a formas de estar, pensar e sentir o mundo, atravessada por questões políticas, econômicas, sociais e múltiplos elementos complexos e heterogêneos.


Contribuições da Ergonomia 


     A Ergonomia da atividade Situada contribuiu para o estudo do trabalho e para a diferenciação de trabalho prescrito e trabalho real.
     Trabalho prescrito é o conjunto de condições determinadas, da tarefa predefinida e dos resultados a serem obtidos, o trabalho real é aquele que de fato é realizado. O trabalho efetuado não obedece ao trabalho esperado, pois quando uma pessoa realiza a tarefa, encontra diante de si de várias fontes variáveis como, panes, disfuncionamentos, dificuldades de previsão, fadiga, diferença de ritmo, efeitos da idade, experiência.


A Compreensão da Ergologia sobre o trabalho 


     Para a ergologia (abordagem que estuda o trabalho em sua dimensão micro) trabalhar é a atividade de seres humanos situados no tempo e no espaço e que se dá no acontecendo da vida.     
 Os estudos ergológicos afirmam o que o movimento dos trabalhadores já afirmava: a prescrição nunca é suficiente para dar conta da produção exigida, o trabalho nunca é mera execução. 
     A ergologia, a abordagem puridisciplinar a que ela se propõe exige que qualquer disciplina envolvida se repense e se retrabalhe através dos pressupostos:

       · Noção de atividade;
       · A consideração da existência de um campo de debate de valores em todas as atividades realizadas;
       · A existência de uma dialética universalidade-ressingularização ou macro-micro; 
       · Que se considere a existência de um regime de produção de saberes.

     No ambiente de trabalho Nada acontece da mesma forma de um dia para outro ou de uma situação de trabalho para outra. É nesse sentido que o trabalho é infiel. Yves Schwartz aponta para o fato de que essa infidelidade é dirigida como um uso de si e não como mera execução.
     O segundo pressuposto da abordagem ergológica é: se o trabalho mobiliza aspectos subjetivos do trabalhador, então o trabalho é também sempre um debate de valores. Ao se deparar com a prescrição, cada um vai ressingularizá-la do seu jeito, de acordo com seus valores e com sua história individual e coletiva.
     O terceiro pressuposto é: a dialética entre universalidade e ressingularização aponta para a necessidade de interligar as questões micros e macros, é saber adequar-se, crescer, ampliar-se.
     O quarto pressuposto da abordagem ergológica assinala na direção de um regime de produção de conhecimentos como dispositivo em três pólos: o pólo dos conceitos, o da experiência e um terceiro, ético e epistêmico, fazendo a ligação entre os dois. É a pessoa sendo convocada em toda a sua subjetividade. Outro uso que é o uso de si por si mesmo, a renormalização singular realizada pela atividade humana.


Recursos Humanos


     Até a década de 70 os recursos humanos aconteciam em torno do modelo taylorista-fordista, onde o trabalhador era visto como um repetidor que poderia ser usado e descartado como qualquer outro recurso da empresa. A partir da década de 70 uma nova crise capitalista internacional surge, novamente, nos os mundos do trabalho junto com grandes transformações tecnológicas e organizacionais. A supremacia do capital financeiro descola o capital da ordem produtiva, se acirram a competição e a concorrência por novos mercados e as novas tecnologias e formas de organização do trabalho.     
     O novo momento do capital necessita de um trabalhador não apenas qualificado, então surge a necessidade de um “super-profissional”, altamente qualificado para aceitar às novas exigências do capital.
     Mais do que um simples modismo a primeira grande mudança é alteração do nome do campo de trabalho de Recursos Humanos para Talentos Humanos ou para Gestão de Pessoas. Do ponto de vista da Ergologia é a constatação de que as pessoas são mais do que um recurso manipulável. 
     Na Ergologia poderíamos falar em Gestões com Pessoas, na medida em que gestão é sempre plural e coletiva. Em toda a atividade de trabalho existe uma dimensão gestionária, sendo impossível gerenciar a partir de um deserto de gestão.
O trabalho, definitivamente, não pode mais ser visto como uma seqüência de operações repetidas, programadas, padronizadas, mas torna-se uma seqüência de eventos que se cruzam, modificam-se e ultrapassam o saber e a ação de um único indivíduo.
     Com a mudança na seleção de pessoas, levam mais em consideração questões como satisfação do cliente, clima no ambiente de trabalho e melhoria de processos internos, com pessoas que mostrem seu potencial.
     Qualquer prática na área de Gestão de Pessoas deve partir das experiências dos trabalhadores.

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